Comecemos com uma música que, mais de 30 anos depois, continua atualíssima:
Eu presto atenção no que eles dizem
Mas eles não dizem nada (Yeah, yeah)
Fidel e Pinochet tiram sarro de você que não faz nada
(Yeah, yeah)
E eu começo a achar normal que algum boçal
Atire bombas na embaixada
(Yeah yeah, uoh, uoh)
…
Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada
Toda forma de conduta se transforma numa luta armada
A história se repete
Mas a força deixa a história mal contada
….
E o fascismo é fascinante
Deixa a gente ignorante e fascinada
É tão fácil ir adiante e se esquecer
Que a coisa toda tá errada
Eu presto atenção no que eles dizem
Mas eles não dizem nada
Sim, o bom e velho Engenheiros do Hawaii, na faixa primeira do seu disco inaugural, Longe Demais das Capitais. E assim passaram 33 anos, mudaram as estações, nada mudou.
A poucos dias do pleito, que esperam todos ser a redenção, eu presto atenção no que eles dizem mais eles não eles dizem nada. Nosso “Fidel” e nosso “Pinochet”, liderando as pesquisas, tiram sarro de cada uma de nós. É incrível que tenhamos chegado a tal ponto, desejando pela democracia, acabar com ela. Com certas coisas não se brinca.
As perguntas aos redentores da nação residem no como e no porquê. Percebemos, na enxurrada de debates e entrevistas, que todos repetem as mesmas coisas, alguns vociferando números e estatísticas, mas sem explicação alguma de como farão.
Toda essa busca de uma saída sem que ninguém pergunte como fazer a saída e, também importante, como não entrar de novo. Sim, porque adoramos voltar aos nossos erros…Gostamos de repetir coisas que não deram certo, partindo justamente das mesmas premissas que nos conduziram ao insucesso.
Entretanto, devemos nos atentar para o fato de que, ganhe quem ganhar a eleição para a chefia do executivo, nosso sistema político empurrará o vencedor, necessariamente, para o “colo” do legislativo. Sim, será no âmbito do legislativo que se travarão as discussões sobre as “promessas” do chefe recém eleito. E lá, se não nos acautelarmos, os “chefes” continuarão os mesmos. Entra governo e sai governo, governantes só governam caso mancomunem-se com esse legislativo camaleônico.
Acredito que nunca foi tão importante pensar em quem votaremos para deputado e senador. Se existe alguma chance real de mudarmos nossa sina, esta reside justamente na formação de casas legislativas que estejam efetivamente preocupadas com a reconstrução do nosso roto tecido social.
Alertemo-nos de que cada um de nós tem o dever, jurídico e moral, de votar com a certeza de que, dentro do possível, fez as escolhas mais criteriosas e conscientes, como se estivéssemos buscando alguém para empregar, casar ou até namorar um filho nosso. Pode parecer exagerado mas não é. Lembremo-nos: essas pessoas, pelo nosso voto, estarão investidas do poder de nos representar, de escolher nossos destinos e de nossos filhos. Possuem uma procuração nossa…
Assim, antes de escolhermos este ou aquele para presidente, devemos crivar nossos deputados e senadores, como se nossas vidas dependessem disso.
Chega de voto de protesto. O que se põe na urna hoje, volta amanhã.
Marcus Vinicius Ramos Gonçalves
Sócio da Bertolucci e Ramos Gonçalves Advogados. Prof. Convidado da Pós-Graduação da FGV-RJ. Presidente da Comissão de Estudos em Comunicação da OAB/SP. Presidente do ILADEM (Inst. Latino-Americano de Defesa e Desenvolvimento Empresarial).
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