Respiramos agora “a lista de Fachin”. Por qual razão não nos espantamos com os nomes inseridos na lista? Percebemos que a mesma estava além de partidos e cargos, é suprapartidária.
A situação é séria. O sistema está em xeque. Digo isso porque todos os mais importantes partidos políticos estão envolvidos. Nomes de renome, figuras que se diziam probas, absolutamente probas, estão lá citadas.
O que impressiona, além dos nomes e das cifras, é a demonstração dada pelos corruptores de que não havia limite. Departamentos inteiros montados para disfarçar a indisfarçável suruba. Empregos gerados para isso!! Tinham sofisticados esquemas de caixa 2, 3; caixa 69. Davam codinomes, apelidos. Uns até carinhosos. Outros debochados. Eram todos compadres. Um compadrio frio, que despreza a consequência no outro.
A volúpia de se tornarem gigantes, era tanta que não importava se o que faziam era capaz de jogar milhões de pessoas na miséria.
Mataram milhões. São genocidas!
Condenaram vidas à infelicidade, à humilhação. Por mais que deteste os pulhas corrompidos, porque traidores do poder que lhes fora confiado, tenho muito mais desprezo e ojeriza pelos corruptores.
Fizeram o que fizeram porque queiram mais, mais, mais, mais… Sem limites. Sem pensar no próximo. Sem perceber que os filhos da miséria que geraram, premidos pela vida violenta a que foram relegados, podiam matar, numa esquina, seus filhos. Mataram milhares nas filas de hospitais que não funcionam, fizeram chorar mães cujos filhos adoecem pela falta saneamento básico e pela água contaminada que são obrigados a beber. Criaram viúvas e órfãos dos acidentes em rodovias de baixa qualidade, dos trens sucateados que descarrilaram, dos ônibus que capotaram, das ciclovias que ruíram. Condenaram gerações à ignorância por contas das escolas que não começaram, dos professores que não ganham para sobreviver, das crianças que largam a escola para esmolar nos faróis.
Parasitaram a todos nós.
Sabem essa sensação que temos de que somos um povo inferior? De que lá fora, tudo acontece, tudo funciona? Também podemos creditar a eles.
No entanto, não devemos nos enganar: a corrupção está em nossas carnes! A importância de combatê-la, naqueles que exercem poder, se assenta na esperança de que, punidos, possam servir de exemplo.
Volto a carga. O sistema está em xeque.
Todos os citados, ainda que em fase de investigação, não preenchem mais o requisito da moralidade, para dizer o mínimo, para continuar no exercício de seus cargos. É grave. É uma séria crise. Dado isso, não há alternativa: temos que repactuar o sistema político-eleitoral. Todavia, de nada adiantará tal discussão se conduzida e realizada por agentes sob forte suspeição. Como há também outros temas relevantes que devem ser debatidos, a saída honrosa é convocação de uma assembleia nacional constituinte. Tenho dito isso há muito tempo. Necessário que encaremos a realidade, de que nossa constituição não mais realiza seus fins.
Entretanto, há que se estar alerta: de nada adiantará uma nova carta constitucional ou um novo sistema eleitoral se continuarmos cedendo em pequenos atos de corrupção, no dia-a-dia. Devemos ser intransigentes não com os outros, mas com nós mesmos. A corrupção está em cada um de nós, como um semente do mal, pronta para germinar e se disseminar. Temos de arrancá-la de nossas vidas.
Marcus Vinicius Ramos Gonçalves
Sócio da Bertolucci e Ramos Gonçalves Advogados. Prof. Convidado da Pós-Graduação da FGV-RJ. Presidente da Comissão de Estudos em Comunicação da OAB/SP. Presidente do ILADEM (Inst. Latino-Americano de Defesa e Desen. Empresarial).
mvgoncalves@brgadvogados.com.br
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