Estamos estarrecidos. Aflitos. Desorientados.

Há tempos venho alertando para esse estado de coisas de Estado que mostram, com profunda clareza, que vivemos a maior crise que já vivemos. Essa conversa que somos uma democracia madura, cujas instituições funcionam, vem sendo desmentida dia após dia. E o movimento paredista dos donos de caminhões (e não exatamente dos caminhoneiros) sintetiza bem isso.

Vamos aos fatos, sempre eles…

O executivo deu amostras de que não governa e não sabe o que fazer. No caso, procurados já há muito pelas lideranças dos “caminhoneiros”, deram de ombros e disseram que nada podiam fazer. Não tiveram a necessária prudência que gestores devem ter para observar o tamanho do problema, avaliar seus riscos e tomar as medidas para mitigação dessas ameaças. Nada fizeram e o caos se instaurou com a greve. Na mesma dinâmica da sua fragilidade, não implementaram qualquer medida para restauro da ordem, não usaram nem o poder de polícia que possuem. O legislativo, subserviente, não se importou em observar se os meandros legais da situação estavam em consonância com a realidade e serviam, de fato, aos interesses da coletividade. Quando, por exemplo, votam esta ou aquela lei, onerando ou desonerando este ou aquele setor econômico, não costumam usar o discernimento que se espera para perceber a força e as consequências da desoneração ou oneração. Não conseguem, ainda no mesmo quadro, estabelecer a relação entre ação e reação; importam-se apenas com as vantagens que obterão para si em virtude da troca que fazem com o executivo para aprovação da regra legal desta ou daquela medida de vontade do mesmo executivo. Por fim, o judiciário, que chamado a restaurar a ordem, ainda que tenha se manifestado, não conseguiu produzir qualquer efeito…Os poderes perderam o poder.

O interessante é perceber como os “caminhoneiros” representam bem nossas fragilidades. Bem sabido que o transporte de carga e pessoas por estradas, num país continental, não é das melhores soluções. No entanto, ainda que cientes disso, insistimos no equívoco. Síntese do que somos. Conhecemos nossos erros, mas continuamos, bovinamente. Eis que agora, sem que se tenha certeza de quem ao certo sirva, esse anacronismo que o transporte sobre rodas representa expõe todas as fraquezas desse estado que vive de sugar a todos nós. E, o mais interessante: estamos tão exaustos desse Estado que, quando algo o enfrenta, apoiamos, ainda que possa nos impor um monte de inconvenientes. Reparem que, de alguma forma, simpatizamos com a causa. E a causa é dizer basta ao draconiano Estado.

Disso tudo, só tenho uma certeza: a incerteza. Não sei onde tudo isso nos leva, ao que nos guiará. Contudo, temo por nossa democracia doente, porque não existe a menor percepção de ordem e poder. Receio que pagaremos uma salgada conta.

Estoquemos água e comida!!

 

PS: dentro dessa balbúrdia toda, quero deixar uma provocação: para que serve o monopólio da Petrobrás? Quando a Petrobrás vai mal, pagamos para que não quebre. Quando vai bem,  pagamos para que continue indo bem. Não entendo que vantagem levamos nisso…Fica o recado: para os que pagam a conta, concorrência é sempre melhor, custa menos. Temos que cobrar o fim desse anacrônico modelo.

 

Marcus Vinicius Ramos Gonçalves

Sócio da Bertolucci e Ramos Gonçalves Advogados. Prof. Convidado da Pós-Graduação da FGV-RJ. Presidente da Comissão de Estudos em Comunicação da OAB/SP. Presidente do ILADEM (Inst. Latino-Americano de Defesa e Desenvolvimento Empresarial).

 

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