Sei que muitos não gostarão do que falarei aqui. Não se trata de pessimismo e nem de um olhar enviesado.
Hoje, 08 de março, dia da mulher.
Será?
Não quero discutir a razão de se consagrar um dia ou mês à mulher. Não se trata disso. É sobre a percepção de que, aqui, em nosso país, nunca passamos dos discursos, das datas marcadas.
Quem se atreveria a dizer que não é importante discutir a situação da mulher em nossa sociedade? Pois bem, já que é tão relevante…
Continuamos evitando debater com profundidade a situação da mulher em nossa sociedade. Abordamos o tema assim, vez por outra, oportunamente, num instante “comemorativo”.
E daí?
O que mudou?
Nada.
Reparem que quando tocamos o tema não “cuidamos do nosso jardim”. Num ambiente corporativo, por exemplo, temos debatido a isonomia de salários, o assédio sexual , o assédio moral? Pouquíssimas são as empresas que esgrimem as condições de trabalho das mulheres e, efetivamente, iniciaram uma mudança de atitude. Notem que ainda vira notícia quando, por exemplo, mulheres ocupam funções como pilotas de aviões, seguranças armadas etc. Isto serve para ilustrar que ainda se tem a ideia de que existem “serviços de homem” e “serviços de mulher”. Essa divisão “clássica” justifica uma série de diferenciações que se criam e que submetem as mulheres a um regime muito desigual de trabalho.
Percebam que, quando digo que devemos olhar para o nosso quintal, já os alerto, pode doer. Perguntem às suas esposas, filhas, irmãs ou mães se, logo que chegam em casa, podem relaxar? Ao contrário do que propalamos, na maioria das casas, o lar é um lugar de “relaxamento” dos homens pois, infelizmente, ainda boa parte das tarefas domésticas são dirigidas às mulheres.
Calma, sei que muitos aqui se levantarão e dirão que ajudam nisso e naquilo. Todavia, deixo a pergunta (que não precisam me responder, pois vossa consciência o fará): é o suficiente?
Trago esta reflexão, neste dia, para usar a passagem do dia em que diremos uma série de gentilezas à elas, para que mais do que as mesuras, passemos à mudar nosso comportamento, individualmente.
Lembro que ainda vivemos numa sociedade extremamente violenta para com as mulheres e que parte dessa violência vem de não as percebermos como pares, como seres humanos iguais. O que não queremos para nós, não podemos desejar para o outro. Regra básica que, se levada a sério, dispensará que se tenha dia disso ou daquilo. Todos os dias serão de seres humanos, de sermos humanos
Marcus Vinicius Ramos Gonçalves
Sócio da Bertolucci e Ramos Gonçalves Advogados. Prof. Convidado da Pós-Graduação da FGV-RJ. Presidente da Comissão de Estudos em Comunicação da OAB/SP. Presidente do ILADEM (Inst. Latino-Americano de Defesa e Desenvolvimento Empresarial).
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